terça-feira, 28 de agosto de 2007

Kukamonga!







Desculpe família, amigos e quem mais leia esse franzino e minguado blog sem graça pela falta de atualizações na última semana. Esse tempo de site entregue às baratas deve-se basicamente pela falta de internet e tempo por parte desse estudante não-ativo. Muitas coisas se passaram, e dias também, desde a última atualização, seria portanto, falta de massa cinzenta e por demais abuso da paciência de vocês, leitores de intervalo de aula ou familiares que dormem cedo, contar detalhes por detalhes o que aconteceu nesses dias. Vamos então às tripas, pois como diria o sábio Danilo, tudo que é tripa, é fato.
Depois de dar a última atualizada, não lembro se segunda ou terça, o céu caiu sobre Lincoln. Passava eu uma morgada, não-emocionante e cinematográfica tarde de nada a fazer quando a Liz chegou, por volta das 3p.m. e disse algo do tipo “Olha as cortinas que comprei! Ah, sim ,estamos sobre alerta de tornado, é melhor fechar as cortinas!” Com o mesmo alarde que expressei nessas últimas linhas, como se fosse algo do tipo “Ih, vem chuva!”. Corri para a porta e vi a nuvem que chegava trazendo poeira, saco de lixo, vento, tudo veio na minha cara. Peguei a câmera da Liz, pois a minha não vale o que o gato enterra, e filmei o que deu, a câmera não está aqui, por isso não vou mostrar imagens, talvez mais tarde, noutro post.
Com a minha empolgação, ela tratou de tentar me acalmar, “Acho que não teremos tornado, só granizo.” Dito e feito, com pouco tempo as pedrinhas de gelo faziam barulho ao bater nos telhados e janelas. Até uma árvore soltou um enorme galho na esquina aqui perto, sorte que ninguém estava por perto, também, se estivesse, seria metralhado pelo granizo e arrastado pelo vento. Mas chega de botar medo nos parentes, e deixar o povo preocupado, vamos às boas partes...
Um dia depois, chegaram os outros brasileiros. A farofada veio meio dispersa mas todos no mesmo dia, a ponto de fazermos o teste de inglês na manhã seguinte e pegar o busão para o acampamento. O teste é para ver o nível de english da grindalhada, sim, pois aqui nós somos os gringos, e colocar cada macaco numa turma que corresponda ao nosso nível. Já o acampamento é uma espécie de boas vindas para o bixos da engenharia, nós, farofada penetra, marcamos presença. O nome do lugar, para os mais bisbilhoteiros ou curiosos que queriam dar uma olhada na net, é Camp Kitaki, procurem também variações com “y”. Mas não tem o que se tire da imagem de acampamento que se faz quando assistimos algo tipo Acampamento Kukamonga, Acampamento dos gordinhos, desses o Matheus se lembra, ou qualquer desses filems de Camp que assistíamos quando não tinhamos nada para fazer, ah minha infância de cinema em casa!
Encontramos alguns gringos como nós, uma portuguesa com certeza, chinesa para variar e dois estudantes que me lembraram um trabalho de geografia que fizemos na oitava série, o Farukh, se é que se escreve assim mesmo, é do Tadjiquistão, se é que se escreve assim mesmo 2, e a Veira, 3, é do Cazaquistão, 4! Obrigado Tia Francy, aquele trabalho foi tão importante que deu até para tirar onda com os caras fingindo que eu sabia alguma coisa da região deles, tipo bandeiras e economia. O mais engraçado era quando alguém perguntava de onde o Farukh era, depois de ouvir tantos “What?!?!” ele dizia que vinha de Far far away, que no filme do Shrek é o reino de Tão tão distante. Da parte dos nativos, só consegui guardar o nome do Kyrik, da Amanda e da Marie, pois, enfim, encontro esses caras em todo o canto.
Claro que onde tem brasileiro gaiato tem zuada e futebol. Algum tempo depois de chegarmos, descobrimos uma bola sendo maltratada por um nerd americano. Chamamos o cara para jogar mas claro que ele já foi se saindo e liberando a bola. Mesmo com toda a categoria, elegância, domínio de bola, malícia, técnica, ginga e drible que nos falta, e digo que os outros eram < a mim, fizemos uma rodinha e começamos a jogar a bola para o alto, balãozinho, essas coisas que fazemos quando não temos gente suficiente para jogar. Em pouco tempo, juntou uma roda em volta da nossa só de gente olhando aqueles caras que possivelmente falavam espanhol jogando uma bola que chamam de futebol estranhamente redonda para uns e outros de maneira que mais estranhamente ainda, não caia.
Um ou outro nativo se juntou a nós mas as nativas marcaram presença. Ainda batemos um rachinha no que restou de grama depois da delimitação do campo de football e algo tipo football com aqueles discos que se joga de um para o outro. Ainda teve fogueira para assar marshmallows, arborismo, basquete, palestras para os bichos e feijão doce com hambúrguer e KiSuki no almoço.
O mais legal foi a volta para casa no dia seguinte. Chegamos no campus, fomos chutados dos amarelinhos que em Sobral tem alguns iguais, procuramos uma parada para pegarmos o outro ônibus que, segundo nossas intenções, nos levaria de volta para casa. P.S. a essa altura o narrador displicente deveria ter dito que o Thiciano está morando comigo e a Liz e o Victor passaria a noite sob o mesmo teto pois era um brasileiro desabrigado à procura de uma ponte quentinha e aconchegante. Depois de umas voltas no quarteirão até achar a parada, descobrimos meia hora depois que o nosso transporte não passava por aquele ponto, depois de pensar um pouco, decidimos inteligentemente confiar em meu censo de direção de barata tonta e ir andando, arrastando as malas e as dores no corpo adquiridas nos últimos rachas no acampamento.
Como não tínhamos chaves nem bateria nos telefones, todas as preces eram para que a Liz estivesse em casa. Preces não atendidas, quarenta e cinco minutos perdidos a esperar, decidimos nos aventurar mais uma vez nos ônibus e tentar chegar na casa do irmão do Thiciano, mas dessa vez contávamos com a valiosa ajuda do guia de linhas de ônibus da cidade. Sabíamos onde esperar o transporte, qual ônibus pegar, onde descer para pegar a outra linha e até sabíamos que podíamos usar o serviço de transporte público mostrando a carteirinha de estudante da faculdade, só não contávamos que a outra linha já não tinha mais carros circulando e que desceríamos dois quarteirões depois. Pior para o Victor, que não tinha carteira de estudante e teve que pagar US$1,25 para a loira que dirigia o busão. Claro que até conseguirmos o primeiro ônibus, teve o tradicional, “Vou só ali enquanto o ônibus não vem!”, acompanhado do, “Pqp, lá foi o ônibus!!”. Confesso que esse fato está entre as minhas falas.
Rodamos um pouco para nos situarmos, achar um telefone onde poderíamos ligar não sei para quem, pois não sabia número de ninguém a não ser o meu e como já disse anteriormente, não tinha batería. Nesse meio tempo demos de cara com uma loja de conveniência fechada, eu ia entrando na casa de um cara que eu jurava ser uma loja de conveniência e conhecemos um outro cara que, segundo ele, até nos daría uma carona se não tivesse que comprar algumas coisas para a mulher dele. Lia-se nesse momento em nossas mentes, “Corno manso!”.
Coincidentemente, o Farukh me disse ainda no camp onde ele morava, coincidentemente 2 foi eu me lembrar mais ou menos onde era e 3 de estarmos mais ou menos por perto. Saí vagando pela rua procurando por algo que indicasse que naquela casa moraria alguém do Tadjiquistão. Meio quarteirão depois, me virei e vi o Thiciano e o Victor conversando com o Diego, personagem já apresentado anteriormente, ex-aluno do Prof. Felipe. Os outros dois não o conheciam, o contato só foi possível pois o Diego estava com uma camisa alvi-negra do Ceará. Ele nos levou para casa, eu pude ligar para a Liz pelo celular dele. Estávamos salvos do nosso destino de ficar perdido perambulando pela cidade e morrer com fome, atacado por cães, esquilos selvagens ou doenças adiquiridas por remecher o lixo local.
Antes de sair para o Kukamonga a Marilena me apresentou o Dr. Negahban, que faz pesquisa na área de materiais, caracterização e propriedades de compósitos e paga US$8 a hora para estudantes de graduação. Mandei uns emails até o servidor da UNL ver que eu não sou um spam e deixar o professor ler meus escritos. Juntei os documentos para requisitar um número do seguro social, algo tipo CPF tupiniquim, estou esperando a burocracia americana funcionar e se tudo der certo, começo a trabalhar segunda.
O que começou hoje mesmo foi o ano letivo, as aulas. Mas antes de deixar os alunos mofando nas salas de aula e nos seus quartos debruçados sobre os livros, a UNL preparou um show de recepção aos novos pagadores das suas não-baratas taxas e claro, para os farofeiros garapeiros aqui também. Basicamente, tudo aqui funciona em torno de fazer o aluno sentir prazer em participar da Universidade e seus times e esportistas. Claro que em se tratando da terra do Tio Sam, o esporte principal nas Universidades é o futebol americano. O time daqui é conhecido por Hurskers e têm cinco títulos nacionais, mas esse ano completou uma década de jejum. Ainda merece destaque o time de vôlei feminino, essas sim, têm bem mais títulos recentes que os marmanjos, mesmo assim, ter os ingressos para a temporada inteira é motivo de orgulho e inveja entre os locais. Os tíquetes se encerram cedo e é praticamente impossível comprá-los por essas horas, a não ser pelos também existentes negociadores de mercado semi-negro, quase cambistas mesmo. A título de informação, eu não tenho nenhum ingresso :(
Que seja, a recepção foi ótima. Nada de trotes por aqui, nos dias que antecederam os inícios das aulas estavam ocorrendo as seleções das Sororities, algo tipo clube a versão feminina das Fraternities, um grupo de estudante com uma casa própria na Universidade que se ajuda mutuamente como uma fraternidade, aquelas coisas com geralmente vemos nos filmes tipo American Pie o último Stifler virgem com três letras gregas, alfa, pi, gama, sigma, teta.... O resultado pouco me interessa, legal mesmo foi ver tanta mulher bonita, para não dizer gostosa, junta. Convenção de Barbies é uma expressão que se ajusta muito bem situação à situação. Sem palavras para descrever a sensação e fazer entender o que se passava naqueles momentos, esse escrevedor preguiçoso e conformado se resume a essas palavras.
Para os mortais em geral, passeios pelos campus, pelo estádio de fazer inveja a qualquer time de futebol do Brasil, pelo prédio do centro recreativo e de esportes que tem um outro prédio só para sua refrigeração, festa, música, filme e uma feira com muita, muita coisa de graça para quem aparecesse. Camisa, boné, cadernos, agendas, garrafas de água são os mais mensionados pois caneta, lápis e bombons foram “de com força”, ainda teve muito refrigerante e comida de graça, descontos em lojas, restaurantes e bibliotecas da cidade também estavam nas listas.
Para finalizar, o dia de hoje. Acordei cedo, banho, cheiroso como todo o bom menino no primeiro dia de aula, mas para variar, perdemos o ônibus por não saber onde era a parada direito, o jeito foi enfrentar os quinze minutos de caminhada até o campus. Procurar a sala como todo bicho, cara de bicho como bicho que sou. Sala achada, algo me lembrou o Brasil, o professor não apareceu, vai faltar até sexta, dia 31. Tempo suficiente para dar uma volta no campus e resolver quais cadeiras eu realmente vou fazer. Um super almoço de US$2,89 no Burguer King e rumo para outra aula. Um professor meio chinês meio canadense com um sotaque F.D.P. mas nada demais para deixar de ser entendido. A última aula, de inglês, mostra que os olhinhos puxados estão mesmo invadindo as terras daqui. Fora uma representação da Rep. Dominicana, Gabão e eu, todos os outros (por volta de 15) vinham de países como China, Malásia, Vietnã e Japão. A professora é que merece uma menção, uma velhinha simpática que faz questão de aprender o nome de todos. Gordinha que é, as meias que sobem até os joelhos realçam o contraste dos pezinhos pequenos com o quadril largo, anda parecendo um ônibus fazendo curva. Para a volta, massa cinzenta trabalhando, peguei o mapinha e desenhei o trajeto do ônibus com todas as paradas até minha casa.
No mais, essa foi uma tentativa de atualização das coisas que rolaram por aqui, nao tenho muitas fotos pois me preocupei mais em me dirvertir que tirar foto, deixei esse serviço para os outros mas ainda nao tive tempo de pegar os arquivos.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Chegadas, O genro, Zoo e outros dias nao atualizados






















Decidi não esperar mais até ter um bom sinal de internet para escrever sobre as coisas que se passam por essas bandas. O que acontece é que ainda não temos internet própria e estamos meio que “usando emprestado sem pedir” dos vizinhos, por isso, nem sempre conseguimos carregar uma página ou mesmo entrar no msn. Então, escrevo aqui nesta noite ainda clara de domingo sem saber quando essas tortas e mal tecidas linhas serão levadas ao blog.
Começando pela quinta, que foi basicamente pegar a Lídia e família no aeroporto. Lídia foi a professora de português dos gringos que aqui agora são nativos quando eles ainda eram os gringos, no Brasil. Seu marido é professor da UFC que provavelmente está aqui para um doutorado ou pós ou seja lá. Fomos ao pequeno aeroporto de Lincoln, levamos alguns sacos de dormir pois a família não tinha nada na casa onde iam morar. Felicidade deles, Anna e sua mãe já haviam preparado tudo, ou muita coisa, de brinquedo para os três meninos a comida e cacarecos de cozinha. Nossa ajuda, basicamente dispensável perto delas, logo, voltamos para casa.
Passando pela sexta, quando meu companheiro de empreitada, Thiciano, chegou por aqui. Ele pousou em Omaha ás 11h30min, foi a primeira vez que vi Danny desde que cheguei, e também uma amiga da Anna, Melissa, que é do Canadá, mora na Flórida e está passando uns dias por aqui. O irmão e cunhada (Garbiela, que também trabalha nos “assuntos internacionais” da UNL e nos ajudou em nossa vinda) do Thiciano também estavam lá para fazer as honras.
Bandeirinhas tupiniquins nas mãos e tudo mais, logo estávamos num restaurante sugerido pela Anna, felizmente já tinha passado num Mc antes de partir pois os preços por lá não estavam para o gosto de estudante brasileiro. O restô, Old Chicago, encontra-se no centro velho de Omaha, lugar muito bem decorado, com arquitetura antiga, tijolinhos, cafés nas calçadas, lojinhas de roupas e cacarecos de souvenirs e tudo mais.
Tudo no lugar lembra a cidade que dá nome ao restaurante, música, decoração, vídeos... Logo mais, fui com a família deixa-lo em casa, por esses dias, será na casa do irmão mas logo logo ele vai se mudar para o que será sua casa pelos próximos meses. Depois de um breve papo e apresentações, Thiciano e o irmão foram jogar futebol (o nosso) enquanto eu tive que alugar a Gabriela para me deixar em casa, pois tinha combinado com Matt, Antonio e Liz de jantar num restaurante Mongol (especializado em comida da Mongólia) e depois assistir a um filme.
O nome do lugar é HuHot, bem legal, movimentado e carinho também, diga-se de passagem, pois US$12,29 por pessoa não é algo a ser ignorado. Você faz seu prato, basicamente uma “cumbuca” com coisas cruas, carnes, peixe, frango, macarrão, verduras, molhos e depois eles assam em um enorme frigideira em forma de mesa. De início, Liz tinha ido para a fazenda dos pais, nos encontrando apenas do final do jantar. Ela chegou com o rosto inchado, olhos vermelhos e nariz entopido, foi logo dando explicações: recebeu umas flores da mãe e no caminho para casa descobriu que era alérgica ás plantinhas. Saímos “voados” do restaurante para pegar a última sessão do cinema, ainda chegamos na hora mas não encontramos mais lugares. Uma volta frustrada para casa seria o fim de noite, mas uma amiga da Liz, Briana, ligou nos chamando para a “reinauguração da casa”, na verdade, elas estavam voltando a habitar o recinto depois das férias de verão. Quando chegamos, Antônio e eu éramos os únicos homens entre umas dez meninas reunidas desde duas horas antes com alguns licores, runs, vodcas e cervejas.
Beleza!! Situação perfeita para ampliar as relações internacionais, novos amigos, ou melhor, amigas, expandir a rede de contatos. Que nada, a recepção bem agradável à fria moda americana dissipou minha empolgação inicial. As apresentações foram tipo: “esse é o Nathan, aquele o Antonio.”, “Oi! Ah, olha, deixa eu mostrar a casa!”. Ninguém, nem mesmo as amigas da Liz que eu já conhecia ou ela mesma chegava a menos de um metro e meio de Antonio e eu, o jeito foi ficarmos lá, conversando até que alguem se apresentasse para saber o que diabos aqueles dois caras estavam fazendo lá. O que mudou a história foi a chegada de mais caras, munidos de mais cervejas, muito mais, logo foram se entrosando, arrumaram uns lugares na mesa onde falavam besteira e bebiam, bebiam, bebiam. Isso afastou algumas meninas daquela área e a saída delas foi o sofá onde estávamos Antonio e eu. Consegui bater um papo com algumas delas, depois da dificuldade inicial de provar que eu era do Brasil e o Antonio é que era daqui... Pouco depois, nos chamaram para ver o super-ultra-mega e conservado Nintendo que tinham no porão. Jogamos um pouco, depois voltamos á sala e logo já estávamos pegando o beco.
Saldo da noite: não espere recepção calorosa dos nativos, ou mesmo recepção do tipo “acho que gostaram de mim”, em qualquer lugar que se vá, se você não conhece muita gente (infelizmente o meu caso), a recepção será “eles definitivamente não me querem por aqui”, mas isso não reflete necessariamente seus pensamentos.
Sábado foi um dia importante, dia em que conheci a parte da família que faltava conhecer. Partimos para Ceresco depois de uma passada no drive thru do Runza, uma rede de fast food, lógico, que começou aqui em Nebraska. Pé na estrada comendo no carro, ouvindo country, isso é algo puramente caipira aqui. A propósito, o estado é conhecido por ser terra de caipira mesmo, aqui chamados de red neck, pescoço vermelho ou hell bully, que seja... fato é que me senti um perfeito caipirão.
Eu já falei que aqui constantemente me sinto em filmes, pois bem, o de sábado se eu não me engano, é O genro. Nos meus tempos de cinema em casa (esse filme é do SBT, por isso não trata-se de sessão da tarde e sim de cinema em casa), uma caipirinha de Dakota do Sul (estado acima de Nebraska) vai para a califórnia e lá conhece esse cara meio malucão, vocês podem se lembrar dele de O homem da Califórnia, onde interpreta o amigo igualmente esquisito do cara que acha um homem de milhares de anos congelado no quital. Ela está prestes a se casar com um hell bully mas para despistar o pretendente e a família leva o esquisito para a casa dos pais e o apresenta como noivo.
Tirando alguns detalhes de enredo, me senti mesmo o cara. Conhecimento zero de fazenda, fui tratando de fazer amizade com os cachorros que estavam na porta assim que chegamos, assim teria um refúgio, mesmo quando ninguém se apresentasse para falar comigo, os cães nunca desapontam, depois, um periquito australiano que não é tão útil como um cão nessas horas mas tudo bem. Conheci as três irmãs e a sobrinha, Samantha, talvez pela tradição de recepções do povo por aqui ou por vergonha mesmo, as apresentações não passaram de apertos de mão. Um tempinho batendo um papo, ou ouvindo mesmo pois não falei muito, fazendo amizade com o gato, babando a Sam, fui convidado para ajudar a cortar a grama. Eu sabia que seria convidado, por isso, coloquei algumas roupas mais folgadas e caidinhas na mochila antes de sair de casa.
Eles têm muita grama, a estrada de terra passa a uns duzentos metros da casa todo o caminho é beirado por grama, além disso, tem o quintal, a frente da casa, a oficina e o depósito de grãos tudo isso cercado de grama. Fui apresentado aos cortadores, pequenos tratores que devem ter mais potência que meu saudoso Corsa, escolhi o que julguei ser mais fácil de controlar e lá estava eu fazendo o contorno da estrada. Depois de um tempo os avós chegaram, eles vinham da Dakota do Sul, traziam a bisavó, que mora na fazenda, apresentações feitas, tentei manter o jeito brasileiro, abraço nas mulheres, e aperto de mão firme nos homens.
Depois de algumas horas moendo capim, tinhamos acabado o serviço. Foi legal, não pode-se dizer que foi serviço de profissional pois olhando bem, ainda via-se alguns heróicos fiapinhos resisitentes, mas deu para voltar a sentir o que é dirigir. Voltamos para Lincoln com duas das irmãs, Alli e Daianne, espero que se escreva assim mesmo. Alli parece muito com a Liz, um pouco mais alta mas praticamente mesmo corpo e rosto. Tomamos banho e nos encontramos com os outros num restaurante italiano. No caminho, Alli e Daianne ficavam me perguntando pronúncias e significados de palavras em português de um dicionário que acharam no carro, demos uma volta no shopping enquanto aguardávamos uma mesa vaga, brincadeiras, piadas bestas como sempre, consegui quebrar o gelo e acho que já tenho duas aliadas na família, além da mãe delas. Depois do jantar, apresentar a casa para os avós, acho que já assisti a essa apresentação umas dez vezes, sei quase todas as falas da Liz decoradas.
Domingo foi a ida ao Zoológico de Omaha, todos na entrada às onze da manhã esperando o Thiciano e família até quase meio dia. Coisa de brasileiro, hein!? Macaco, cobra, lagartixa, macacão, macaquinho, cobrinha, lagartixão, sapo, perereca, passarinho, passarinhão, essas coisas de zoológico. O zoo de Omaha, segundo informações dos locais, é o segundo dos EUA, interessante, mas a monotonia de ficar admirando cada espécie de diferentes ângulos e tamanhos enche o saco. Me desgarrei do grupo com a Liz e Antonio para fazer o trajeto mais rápido e acabar logo com tanto bicho. Urso, rhinoceronte, elefante, girafa, tubarão, peixe, peixinho, peixão, mais perereca, sapo, cobra, lá pelas três da tarde terminamos.
Só com o café da manhã, estava com o umbigo colando nas costas. Com o pai, irmão e cunhada do Antonio, fomos a um restaurante na entrada de Omaha especializado em comida Texana. Logo na entrada, um tonel de amendoim, você descasca e joga os restos no chão mesmo, esse é o charme do lugar. Depois de um tempo, chega a comida, um exagero de carne. No cardápio vem o peso dos bifinhos em onças, fazendo umas conversões, no final das contas, devia ter uns 400g de carne no meu prato, e eu pedi um mediozinho, o do pai do Antonio devia ter um quilo de bisteca de boi. E os bifinhos são grossos e geralmente mal passados, a menos que você peça o contrário, uns quatro centímetros de espessura de carne, uma cumbuca de arroz apimentado e para variar, purê de batata. No final das contas, pensei em ir rolando para o carro, mas isso chamaria muita atenção. Ah, detalhe, as facas eram da Tramontina...
Voltamos para mostrar a Liz a casa do Antonio, passamos um tempinho no andar de cima, onde mora o irmão e voltamos para casa. Liz estava com dor de cabeça muito forte, fiquei escrevendo essas memórias tortas e tomando uma limonada que ela insiste em dizer que tem 5% de álcool enquanto ela dormia. Minutos e um Tylenol mais tarde, Brenda liga para ela e convida para sair, ela estava num restaurante no centro da cidade com o namorado e queria nos ver. Brenda é muito bonita, cabelo meio termo entre loiro e ruivo, olho meio termo entre azul e verde, alta... já ele é muito gente boa, você sabe o que quero dizer, né?!?!
Que ninguém com capacidade de traduzir isso leia, mas o cara é meio caipirão, do tipo que dá para desenhar a testa e o nariz com uma linha só, camisa chadrez, calça jeans, botas e cinto de couro com fivela de metal, mas que fique bem claro, muito gente boa mesmo, comparado com minhas outras experiências com os nativos. Foi o único com quem consegui trocar um papo legal, não no restaurante, pois eles falavam sobre pessoas que eu não conhecia, lugares que também nunca tinha ouvido falar e coisas que para mim eram igualmente estranhas. Mas ao final da noite, veio o que acho que foi a décima primeira apresentação da casa. Enquanto as meninas ficavam vendo fotos no computador e conversando coisas irrelevantes que só elas conseguem pensar e falar sobre isso, eu e J. Ross, espero que se escreva assim mesmo, batíamos um papo com umas Bud Light.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

UNL


Só uma correção em respeito ao sogrão, ele ainda esta no meio dos quarenta, e não na casa dos cinquenta como o seu desnaturado blogueiro projeto de genro disse antes. O que não tira suas glorias pelos músculos muito bem sustentados. Ontem fomos conhecer a fazenda da família, mas para ficar mais cronologicamente fácil de ser escrito e lido, vamos seguir a ordem temporal correta.
Depois do meu surto de bibelosidade e estada em casa, deliciamos o macarão com queijo, algo tipo nosso miojo mas devo admitir que melhor, mais cremoso, ou talvez seja por eu estar desde muito tempo atrás empurrando aquela mistura para dentro. Demos finalmente um passeio pelo campus, fomos à parada do ônibus da UNL que é bem próxima e em pouco tempo estávamos no prédio das engenharias. Depois de uma breve conversa com Susan Burton, Matt apareceu e fomos à sua casa. Uma bela casa por sinal, porão bem arrumado, grande, sótão transformado em sala de vídeo, porte de cinema. Vimos sua coleção de peixes e vídeos, muitos peixes, corais de vários tipos e tamanhos. Já os vídeos, ele deve ter mais filmes que muitas locadoras de Fortaleza, desde os mais antigos, ainda em VHS até lançamentos, todos originais. Deve haver algumas centenas de milhares de dólares em filmes lá.
Comeaçamos a falar sobre computadores e telefones, então decidimos que deveríamos aproveitar as promoções e comprar o meu aparelho. O que não foi mal negócio mesmo, pagarei 75 cents por dia para ter ligações grátis para qualquer aparelho da mesma operadora e noites e finais de semana livres.
Voltamos para apresenta-lo a nossa casa, logo depois chegou o Antonio. Estávamos então quatro da ex-família do 1003B reunidos novamente, mais tarde era hora de Matt encontrar-se com sua namorada, fomos então pegar algumas coisas da Liz na casa de seus pais. Mas antes, um drive thru para forrar o estômago. A meia hora de Lincoln, a fazenda é muito bem estruturada, Antonio conversou muito com Mr. Norris a respeito de um carro que está consertando, ferramentas, motores, velhos carros. Isso foi basicamente o que aconteceu durante pouco mais de uma hora que foi o tempo que estivemos por lá. Na oficina, sem dúvida alguma, mais ferramentas que todo o departamento de Engenharia Mecânica da UFC, e não só pequenas ferramentas mas também grandes parafernalhas que até passei algum tempo para descobrir para que serviriam.
O dia quinze foi mais um reconhecimento da UNL. Final da manha, encontramo-nos com Antonio para almoço e logo depois, mais um tour pelo campus. Tudo lá é bem organizado, como seria de se esperar, os prédios de tijolos, gramado, calçadas, árvores onde os esquilos correm livres, nada que vocês não possam ver nos filmes. Na biblioteca, Antonio nos mostrou alguns exemplares das primeiras Enciclopédias publicadas, muito legal. Tivemos acesso a uns cinco exemplares dos livros que contavam todo o conhecimento da humanidade na época, pouco antes da Revolução Francesa. Depois, fomos ver o apartamento nova da Briana, uma amiga da Liz que deveria morar conosco e pouco depois de voltarmos para casa já estava dormindo. Não sei a razão, mas tenho me sentido meio sonolento desde que cheguei, meio aéreo, sei lá.
Quando acordei Antonio tinha trazido uma antena quebra-galho enquanto não instalam o cabo daqui. Liz foi para algo que eu assumo ser tipo chá de panela da Bri enquanto nós fomos a um restaurante chinês. Nos últimos cinco dias tive mais comida chinesa que nos últimos vinte anos, depois conheci a sua casa e de seu irmão. Voltamos para casa e foi basicamente isso... Nada muito empolgante nesses dias, mas espero conseguir minha vaguinha num laboratório logo logo e então, tudo ficará mais interessante. Espero eu...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Esqueceram de mim!


Para um cara que cresceu tendo a companhia dos filmes da sessão da tarde é meio difícil evitar comparações das coisas daqui com as que eram comuns nos filmes lixo da década perdida e que tiveram seu espaço nas telinhas dos anos 90. O cenário: as casas, jardins, gramados, ruas, árvores, carros, pessoas... Pois bem, poderia dizer que hoje o filme em cartaz seria um Esqueceram de mim. A Liz saiu para uma entrevista de emprego e por enquanto que sou um misto de barata tonta desnorteada sem localização, assumo com muito orgulho e sem muitas opções o papel de bibelô e fico em casa sozinho. A diferença é que Macaulay Culkin mostrava o purgatório para dois ladrõezinhos enquanto eu ouço Raul Seixas e lavo a louça. Detalhes, apenas detalhes...
Sei que pulei muitas coisas desde o último post, mas considere esse parágrafo apenas como um adendo.
A chegada em Omaha foi tranqüila, logo encontrei a patroa e sua mãe. No caminho de uma hora para Lincoln, mais uma associação com aqueles momentos presentes na nossa infância. Uma estrada, muito bem conservada, planejada, sinalizada, construída e constantemente retocada, com três faixas para cada mão separadas por um longo canteiro e os viadutos praticamente a cada milha lembra as pistas de Need for Speed ou qualquer outro video game do estilo. Tá certo, pode dizer que é mais um comentário nerd, Kaiser, mas parece mesmo cara, fazer o que?!?!
Apesar das quase trinta horas de viagem muito mal dormidas não estava muito cansado e assim que cheguei na casa, aconteceu minha devida apresentação às instalações e o esperado encontro com o Mr. Norris. Mas naquele ponto eu já estava tão “nem aí” para as coisas por causa dos chacoalhamentos na minha cabeça, horas de viagem, empolgação por chegar e tudo mais que nem dei muita bola para os protocolos e logo estava ajudando-o a colocar os novos eletrodomésticos para dentro da casa. Sim, a casa 1428 da rua quatorze norte está em reformas, e não são reforminhas, a casa toda será praticamente refeita. Os planos da família são mais ou menos os seguintes: incorporar o banheiro ao patrimônio da cozinha, a sala de banhos seria transferida para onde hoje é um quarto; este também daria lugar a um lance de escadas para o sótão, pois a que hoje existe seria descartada, assim, o sótão também acomodaria dois quartos; todo o porão seria levantado uns 60cm, ou dois pés, como eles dizem >/ ; também seria levantada toda a varanda e parte da sala, que estão cedendo. Em resumo, uma obrona!! Mas isso tudo desenrolar-se-ía aos poucos, por enquanto vamos levando...
A casa é bem velhinha mesmo, segundo a Liz, foi construída em 1904, assim como muitas das casas dessa vizinhança, mas está bem conservada e é bem aconchegante, toda a madeira é original e será retrabalhada. Segue o estilo americano de casa de “madeira e papelão”, mas considerando os tornados que de vez em quando dão as caras por aqui é bem melhor que sejam de papelão mesmo, o mais leve possível, assim, quando elas voarem pelos ares você se abriga no porão e se elas caírem sobre sua cabeça o estrago é menor. Pelo menos foi isso que os nativos disseram...
A família foi bem legal comigo (viu mãe!!), principalmente a “sogrinha”, Jennifer. Desde o aeroporto já pude perceber que ela foi com a minha cara, umas piadinhas minhas para quebrar o gelo ajudaram. Já o sogrão, Brad, faz o tipo bem americano mesmo, cheio de ferramentas e uma picape gigante com trailler, elas aliás é bem são bem comuns por aqui. É daqueles que gosta de trabalhar na casa, tipo do “faça você mesmo”, bem conservado para os seus cinquenta e poucos, dá de dez em muito brasileiro de 30. Ou vinte, hehehehe
Depois de colocar as tralhas novas todas para dentro e as velhas para fora, fogão, geladeira, máquina de lavar, secadora, fomos almoçar, quase umas quatro da tarde. Não comi quase nada, ainda pelo remelecho que a comida do avião deu no estômago do amigo aqui.
Sábado e domingo foi basicamente passar nos supermercados, comprar comida e coisas para a casa, arrumar meus panos de bunda aqui e ser apresentado aos restaurantes. Domingo, o Antonio apareceu por aqui com dois irmãos e o pai. Fomos a um restaurante chinês onde a garçonete típica das bandas de lá perguntava “Mohle uátar?” (More water?) e me fazia olhar para ela com cara de “diabéisso?!?!?”. O restaurante era chinês mas muitos dos amigos hispânicos da família do Antonio estavam lá. Acho que a família dele quase toda fala espanhol, ele arranha aqui e ali. Marcamos de qualquer dia combinar um almoço para nós mesmos cozinharmos e lembrar os tempos de 1003B, vou poder praticar mais o meu portunhol que anda tão esquecido ultimamente.
Tudo é vendido em grande quantidade. Comida, produtos de limpeza, cacarecos para casa, tudo em garrafas, potes, embalagens enormes com etiquetas de bônus, pague tanto leve dois tantos, assim como em qualquer McDonald`s da vida. Tudo para incentivar o consumo. Abre-se um pote e antes que esse chegue à metade, ta estragado, ou come-se muito e rápido ou já era. Outras coisas grandes como já adiantei são os carros. Maioria com motores enormes e sedentos por gasolina, os carros extremamente populares daqui seriam uns sadans médios velhos do Brasil mas o que mais se vê são picapes e utilitários gigantes maiores que qualquer carro de linha brasileiro. Também são comuns vãs grandes para variar tipo Zafiras mas maiores, com mais espaço entre os bancos. De uma maneira geral, quarenta por cento dos carros seriam picapes, utilitários ou vans, uns vinte por cento são esportivos tipo Mustang, Audi, BMW e os outros quarenta, da galera estudante. Não são carros-lixo para os padrões brasileiros, têm seus cinco a dez anos de uso, muito espaço interno pois são sedans mesmo e em geral com aparência esportiva, baixos, alongados, com faróis estilosos. Mas todos, sem exceção, com vidros fechados e ar-condicionado truando! Nesses tempos de 100F, ninguém tenta andar com vidros abertos para resfriar um pouco ate o ar-condicionado fazer efeito. Como a cidade é pequena e a temperatura é muito alta, resultado: nunca dá tempo de resfriar o suficiente e sempre andam no calor mesmo com o ar no máximo.
Já nas casas é diferente, o ar está sempre ligado. Dia e noite, não importa se tem gente em casa ou não. Todas elas têm um controle de temperatura interno que está geralmente a 75F, mas por pedido meu, aqui em casa é 78F, algumas visitas ainda se abanam. Outra coisa que chama a atenção para uma pessoa que é filho do meu econômico pai é o sistema de água. Tem uma tubulação de água quente e outra com água fria. Mas fria não de temperatura ambiente mas de refrigerada mesmo, segundo a Liz, passa pelo ar-condicionado se fresfria. Mas o engraçado e trágico é que essa água mal é usada, mesmo no verão, os banhos são quentes. Ou seja, gasta-se energia para aquecer a água a uma temperatura quase impraticável, mais energia para resfriar a outra água mas no fim das contas elas vão se misturar nas pias e chuveiros. Massa!!!

Flying away to here


Para colocar acentos e cedilhas nesse teclado tem umas historias de ctrl+virgula ou alt+alguma coisa e tal.... mas enche o saco e por enquanto, vai sem sinais graficos mesmo. para bom entendedor, meia palavra sem acento basta!
Divirtao-se...

Agora que estou aqui parece que o tudo passou rapido. Ate bem pouco tempo atras, eu estava em casa, esperando que o dia 10 chegasse, agora que ja eh dia 12 a percepcao de tempo eh diferente. Depois de um dia aqui, comecei a me situar no espaco, em minha cabeca, acho que “a ficha nao caiu”. Num dia voce acorda em Fortaleza, nao dorme muito bem durante o voo e quando acorda na outra manha, parece que o Brasil esta logo ali. Mas isso eh normal.
As coisas aqui sao bem parecidas com o que vemos na TV, isso deve facilitar a ambientacao. As casas, carros, estilo de arquitetura, tudo bem “previsivel” para mim, no geral, nao tive muitas surpresas.
A viagem foi tranquila, depois de receber as palavras de apoio de toda a galera, ou muitos de voces, familia, amigos, entrei na sala de embarque com a certeza de que tudo que “deixaria para tras” estava bem resolvido, ja que nas ultimas semanas tratei de minimizar a saudade da antiga vida que com certeza sentirei mais tarde, quando a empolgacao inicial acabar e a rotina comecar a tornar-se consativa e chata.
Posso dizer que fui realmente me dar conta de que tudo isso estava acontecendo quando passei pela porta da sala de embarque do Pinto Martins. Ja havia deixado algumas pessoas no aeroporto e sempre imaginei o dia em que eu passaria por aqueles portoes, mas nunca havia visto o que eles guardavam. Aquele novo cenario foi o inicio de uma vida diferente.
O voo para Sao Paulo foi tranquilo. Ainda no aviao conheci alguns estudantes de intercambio devidamente uniformizados com a camisa da STB. Eles seriam mais tarde minha companhia durante as horas de espera no aeroporto de Guarulhos. Ao meu lado sentou-se um baiano ja paulisata ha muito tempo. Estava em Fortaleza por conta de um congresso, feira, encontro, algo do tipo, de serigrafia, industria textil, coisas do tipo. Conversamos a viagem inteira, basicamente sobre as coisas do Ceara e Nordeste em geral, prometi enviar um email que acho que tenho sobre o ceares.
Em Guarulhos fiz amizade com o resto do grupo da STB, dizem que mundica anda em bando!?! Nao fugimos a regra. Apos pegar as bagagens, procuramos uns telefones publicos, pois segundo uma delas, eh menos depreciativo que ORELHAO, para comunicar as familias que os reversos estavam funcionando e tudo mais. Humor negro sem hora, francamente... Apos os creditos do cartao que minha mae me deu foram fuzilados, procuramos algo para comer. O aeroporto eh grande mas nao muito organizado, tem uma aparencia meio velha, fria, quase uma rodoviaria, nao existe uma praca de alimentacao, os restaurantes sao espalhados entre uma terminal e outro. Apos cansarmos nossas pernas decidimos por um self-service pela bagatela de R$24,00 o quilo. De promocao, um “suco Tanjal”, que por ser de goiaba, devia ser goiabal, delicia, hein?!?! O melhor de tudo foi um bife de panela que, associado a mortadela do cafe da manha, deixou-me lembrancas para o resto da viagem.
Depois de andarmos bastante pelo aeroporto, ouvir diversas linguas das quais eu nao faco ideia de onde veem, achei um caixa do Banco do Brasil onde pude sacar os ultimos dinheirinhos, levar ate a casa de cambio que encontrei logo apos e dar uma carregadazinha no cartao. Encontramos tambem um posto da Telefonica com computadores conectados, o problema era a irrisoria bagatela de R$0,33 por minuto. Eles apresentam o preco assim para disfarcar os quase R$20,00 por hora de internet. Muito pensamento depois, decidi que devia pelo menos mandar um email a Liz confirmando horarios e tudo mais. Tambem por isso, nao escrevi nada a ninguem. Desculpas pedidas!! O resto da espera ate a hora do embarque foi basicamente conversa, sentado nos carrinhos de bagagem. Ah, ainda teve o episodio da selecao brasileira sub17 que estava embarcando nao sei para onde por uma empresa que parecia ser a Air France, mas nao demos muita bola para os caras que perderam de 3 a 1 para o Equador no Maracana.
O balcao de embarque da United Airlines abriu aproximadamente tres horas antes do horario do suposto embarque. Mas logo depois das cinco, embarque as 20h40, ja se formava aquela tipica fila tao comum no Jornal Nacional recentemente. Check in feito, embarquei sem nem me dar conta que nao poderia mais falar com os STB’s. Desculpas pedias 2!! Falo com voces pelos MSN’s da vida, negrada! Fique esperando meu voo no corredor de embarque tentando achar uma maneira nem tao barata mas menos cara de segurar o estomago. Confesso que depois de algumas visitas aos menu’s a hipotese de esperar pelo jantar do aviao foi bem considerada, alem do mais, os reais que me sobraram no bolso nao passavam de quatro, insuficientes ate para um misto frio, R$4,40 mas um queijo frio era ate cabivel. Acabei usando os restos da minha conta em uma empada de frango com cha gelado, uns nove reais..
A convesa no 767 nao chegou nem perto do que fora no voo anterior. Ao meu lado, um senhor que indo fazer doutorado nao puxava muita conversa e convesso que estava mais interessado em curtir as canais de musica, monitor com filmes e mapa em tempo real de nossa posicao que falar com ele. A entrada no aviao foi a primeira sensacao de estar num lugar bem “Estados Unidos”, as aeromocas e aeromocos, na maior parte senhoras ou senhores, nada de jovens gostosinhas bem arrumadas e educadas como eh no Brasil. A decisao pela empada foi bem acertada, a boia do aviao nao era muito animadora, enganava os olhos mas o gosto de plastico e a fala de tempero nao agradaria a muitos. Nao tinha a janela para apoiar minha cabeca, entao nao muito sono depois, chegavamos perto dos States, sobrevoamos Miami e vi o quao perto eh das ilhas do caribe. Passamos sobre o Cabo Canaveral tambem, mas nada de foguetes, plataformas de lancamento ou coisas do tipo foi avistado. No meio da madrugada seria dificil mesmo. Uma salada de frutas azedas e sem gosto depois e ja estavamos pousando em Chicago, junto com o nascer do sol.
Apesar de nao saber o endereco de onde viveria e por isso nao ter preenchido os cartoes da alfandega completamente, o fiscal abriu o envelope grampeado ao passaporte e preencheu co o endereco da universidade. Sabia que o aeroporto era grande, mas francamente, uma outra palavra em portugues maior que enorme deveria ser feita em consideracao aquele aeroporto. Ohare tem quatro terminais, 1,2,3 e 5, e um metro fazendo a conexao entre eles. Supersticao, reformas, frescura, nao sei a razao para suprimirem o terminal quatro, mas todos eles estao la, enormes, congestionados de gente e avioes e nem por isso filas gigantes, bagunca, acidentes fazem parte do cenario. Um esqueleto de dinossauro fazia a decoracao na entrada da asa C do terminal 1, onde se dao os embarques e desembarques domesticos da United. Tambem tinha o corredor com o teto decorado com neos que ligam e desligam conforme uma musica. Havia visto naquele programa chato que so assistia pois nao tinha nada menos ruim no horario, o Mundo das curiosidades, que passava na Record, mas nao me lembrava onde era exatamente.
O corredor de embarque, para nao fugir a regra, enorme. Muitas lojinhas de quinquilharias, ou lembrancas, como quiserem. O jazz quase sempre eh a decoracao, acabei usando meus primeiros dolares e sendo mais uma vez assaltado num cafe. Vi aquele pao enrolado que minha mae custuma fazer que eu aprendi e esqueci a receita mas o Matheus sabe muito bem quais sao, mas claro, na american way, bem maior, coisa de quase meio quilo cada e alguns dolares a mais do que consideraria praticavel. Pedi “one of those and a double expresso”, era algo que eu juraria ser uma rosquinha, mas o rotulo dizia algo diferente, algo tipo “bagel” com canela. Nao tinha recheio como aquelas coisas suculentas que vemos os policiais devorarem enquanto esperam os bandidos entocados nos filmes de loucademia de policia ou corra que a policia vem ai, louvada seja a sessao da tarde!! No final das contas, US$8 e uns quebrados, plus taxes, US$9. Agora faz sentido, os precos serem tao quebrados, sempre “ alguma coisa e noventa e cinco” com os impostos debitados na boca do caixa, voce sabe o quanto o governo te explora, que aqui nao eh muito, e tem um preco “redondo”. Dezoito reais por quatro dedos de cafe e um pao seco com canela em forma de rosca nao eh o que podemos chamar de cafe da manha agradavel. Poderia ser melhor se eu soubesse que o cafe nao vinha com acucar ou perguntasse onde estava o acucar, mas devido a minha preguica ou choque inicial, preferi nao correr o risco de nao ser compreendido e bebi amargao mesmo, coisa de macho!!! Procurei alguma buginganga para provar que estive na cidade do jazz, mas os precos assustavam. A primeira vista parece ser ate justo, mas quando multiplica-se por dois e converte-se para real, mostra-se muito mais injusto que qualquer lembranca vendida aos turistas nas praias do Brasil, mesmo em tratando-se dos vendedores mais exploradores. Talvez por ser dentro do aeroporto, veremos mais tarde. Decidi que a nota fiscal do cafe ja servia como lembranca e peguei o beco.
Durante a espera, vi muito aviao, mas muito aviao mesmo, nao em diversidade mas quantidade mesmo. A maioria 737 e 767, alguns Airbus tambem faziam parte do vai-e-vem daqueles lemes coloridos, tudo sincronizado, as vezes eu via dois ou tres avioes na rampa de decida da mesma pista, e ate onde eu sei, nada de acidentes. Mas o mais legal foi ver os 145 da American Airlines, hehehehe. Eram muitos mesmo, acho que quase todos jatos regionais dessa empresa eram brazucas. Dessa vez, tive a sorte de ficar na janela do 737, bem ao lado da turbina, vi todos os geradores de vortices da asa, nao imaginei que fossem tantos, o trabalho do reverso e tudo mais. Quando ja estava taxiando juro que vi uns dois ou tres 170/190 da United. Nao conheco muito bem esses avioes da Embraer, mas nao pareciam com Boeing ou Airbus e eram um pouco menores.
Durante a hora e meia de voo para Omaha, nao vi uma montanha sequer, nada, nenhum morrinho, tudo plano e cultivado. Fazendas estendem-se por toda a parte, com estradas separando-as a cada milha, tanto norte-sul quando leste-oeste, muito bem organizado e produtivo. Ouvi o canal de radio que passava as conversas entre os pilotos dos avioes proximos e as torres de Chicago e Omaha. Nao entendia muito do que ouvia mesmo quando o glorioso Dolfim me deixava ouvir as conversas dos pilotos no radio dele, isso em portugues, em ingles entao...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Preambulando













Enquanto não chega a sexta, me ocupo de arrumar minha vida por aqui. Muitos os amigos para rever e dar um último tchau antes do embarque, talvez nem tantos assim, é realmente nem tantos assim. Mas para mim, talvez sempre tenha valido mais a intensidade das coisas. Nesses vinte anos recém-completos habitando esse mundo, não cultivei da melhor forma possível nem da melhor forma que pude esses abraços e desejos de boa sorte que recebo, poderia ter feito melhor sim, poderia.
Nesses últimos dias revi muitos amigos, amigos com que não tinha contato há tempos. Aproveitei o quanto pude Guaraná Antarctica e Cajuína São Geraldo; pizza, arroz, feijão e bife; suco de fruta, de polpa de fruta, de caixa, de garrafa, com água ou leite. Voltei a andar nu pelo apartamento, dormi cedo, acordei cedo, dormi tarde, acordei tarde, não dormi, não acordei. Assisti filme, novela, jornal, programa de receita, de piada, programa policial de São Paulo, de Fortaleza, de Recife. Fui a um forró, fui jogar futebol, fui ao shopping, fui ao cinema, fui a restaurante, bar, bodega, UFC, dentista, cabeleireiro, enfim...
Cruzei o estado sozinho no meu carro sem documento, ao melhor estilo Audioslave, "show me how to live", só faltando música, que poderia estar presente não tivessem roubado meu som. Dirigindo por Itapajé, Groaíras, Cariré, Jaibaras em asfalto e terra, assistindo o sol se por entre a estrada e a serra e senti-lo queimar meus miolos e gotejar meu sovaco horas mais cedo. Comi pizza com meus amigos de sempre, falamos besteira, fizemos palhaçada com sempre, tiramos fotos na praça com os índios pelados. Visitei o colégio que para sempre será MEU COLÉGIO, falei com os professores. Voltei para casa para não fazer nada, o que já é normal para mim.
Agora sentado no escritório, sozinho, volto e imagino todas as lembranças que esses lugares me trazem e minha memória foi capaz de armazenar, todas as pessoas, os amigos, família, minhas casas...Tantos rostos, tantas paisagens, situações... Vou indo para um ano longe deles mas sei que levo um pouco da vida de cada um, assim como eles deixam um pouco das deles comigo.