Depois de três anos e meio de serviços prestados, meu HP Pavilion dv6000 beijou a lona. Com um terço das letras indisponíveis, percebi o quanto é difícil produzir qualquer mensagem compreensível tendo apenas o “a” como vogal.
Mais do que uma reflexão sobre a composição e estruturas da palavras da última flor do Lácio, esse efeito da fadiga de componentes eletrônicos me levou ao que talvez tenha sido a minha primeira ação consumista com meu próprio salário, pelo menos no Brasil. Comprei um outro PC.
E o que esperar de um jovem da classe média de Fortaleza com seus primeiros depósitos de quatro dígitos depois da vírgula na conta bancária? Estaria eu me rendendo ao estereótipo que tanto critico? Sim, comprei um computador. Sim, foi numa loja de departamentos focado nos sonhos de consumo das classes C e D, o Extra. Sim, foi em um shopping. Não, não foi o modelo mais foda. Não, não foi o modelo que a propaganda durante o BBB disse ser o mais foda (nem sei se tem anunciante de PC durante o Big Brother). Não, não foi o mesmo modelo que a tia/irmã/prima de um amigo trouxe na sacola de Miami e eu não seria o mesmo se não tivesse um igual. Não, uma camisa Hollister não me transformava em outdoor durante a compra e, finalmente e mais importante: não, eu não parcelei em mais prestações que meus dedos das mãos possam contar. Nem que eu fosse um camaleão amputado. Paguei à vista.
Sim, Nathan, mas você está espalhando para quem quiser saber, e para os que não quiserem também, que você tem um PC novo. E isso te faz tão fútil, opulento e soberbo quanto qualquer playboy com o i30 parcelado em 60x que o pai pensa estar na garagem quando, na verdade, está apoiando um litro de Red Label e servindo de anzol de gatos-véis na porta de qualquer forró.
Muito bem observado, meu caro interlocutor imaginário. Esse rodeio todo foi apenas usado como gancho para outro tópico: trabalho.
Mas não quero choramingar pelas desilusões da engenharia num país onde as atitudes de poucos incapacitados, mal preparados, incompetentes e sem bom senso ditam a formação daqueles que serão responsáveis por mover as engrenagens do país e demonstram tanto descaso com seus colegas de profissão. Não quero me queixar da falta de visão de alguns empresários em utilizar o potencial humano disponível nem da falta de ambição de outros profissionais que leva ao conformismo e acomodação. Não quero falar de como utilizamos pouco do que aprendemos e muito do que não sabemos, nem que recebemos pouco comparado a quanto nos preparamos e muito comparado ao que produzimos.
Assim sendo, vou relacioná-lo a outro assunto: o preço.
Mas outra vez, me recuso a bater na velha tecla do excesso de impostos. De como pagamos muito mais que os países ricos ou mesmo nossos vizinhos por um produto de segunda classe. Nem das “Glauciânicas” taxas de juros que nos dão um produto pelo preço de dois. Nem das abusivas taxas do imposto de renda que, mesmo hoje me deixa em dúvida se vale a pena receber aumento ou não. Ou mesmo, repetir a ladainha sobre as indescritíveis e inventivas utilidades encontradas para o dinheiro público desse país.
Dessa forma, acho melhor ligar meu Dell Inspiron 14 615 e ficar calado.
Depois me perguntam por que não escrevo mais no blog.
4 comentários:
Só pra comentar que você é muito gato!!!
uauuuuuu
Fale sim meu filho, vc fala bem demais, precisa escrever, meu cronista preferido.Adorei seu texto,pra variar.rsrsrs
Fale sim meu filho, vc fala bem demais, precisa escrever, meu cronista preferido.Adorei seu texto,pra variar.rsrsrs
Postar um comentário