sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Ensaio anti-social I
Durante essa época de fim de ano, longe de livros, calculadoras, despertador, stress, pó de guaraná e tudo mais que me lembre a faculdade, volto a ter contato com um estranho ser muito comum na fauna brasileira, o noveleiro. Todos nós conhecemos um, talvez você até seja. Se for uma dona de casa então, essas chances aumentam exponencialmente.
Esse ser muito peculiar tem características bem distintas, não é difícil de identificar. Geralmente, povoa sofás e cadeiras próximas a TV’s, podendo ser avistado em horários regulares, das 20h ás 21h. Em casos mais graves, o indivíduo também deve ocupar o sítio em horários das 18h ou 19h.
Brincadeiras à parte (desculpe mamãe), na minha ótica de sujeito de certa forma alheio à sociedade dita psicologicamente normal (apesar de muitos tentarem me convencer do contrário, ainda penso que me falta um parafuso nalgum canto), assistir a novelas (ou assistir a novelas, Sr. Pasquale que me perdoe) (uptade: assitir A novelas é o correto. Créditos: Mr. Google) me parece mais e mais sem sentido, lógica e porque não, um ato de auto-flagelação mental e de aniquilação de auto-estima.
Enredos estúpidos, que pecam na sequencia e andamento, excesso de enchimento de linguiça, personagens e histórias que sempre se repetem: mocinho, mocinha, vilões, todos ricos que não precisam trabalhar nem tem TV’s em casa, o que sugere que eles mesmos não assitem a novelas, que é muito engraçado para mim). Pior é perceber que grande maioria dos noveleiros sabe de todos esses pequenos defeitos, muitos até reclamam durante a exibição, chamando as personagens de burras por isso ou aquilo e falando o que seria mais óbvio a fazer mas por algum motivo, pessoas da TV não pensam como nós, mortais. E para acabar de lascar o cano e me deixar mais P da vida, ELES CONTINUAM ASSISTINDOOOOOOOO!
Sério! Cara, você reclama, xinga, aponta coisas que não fazem sentido, critica os atores, os merchandisings descarados que não se encaixam no enredo, a falta de massa encefálica das personagens, as incríveis coincidências mas mesmo assim, VOCÊ ESTÁ LÁ, NO OUTRO DIA, COM A MESMA CARA DE BOCÓ PARA VER AS MESMAS BESTEIRAS!!!!
PARE ESSE MUNDO QUE EU QUERO DESCER!!
sábado, 25 de outubro de 2008
Verdade indubitavel
Duas mulheres se encontram na rua, uma delas saindo do cabeleireiro:
Amiga 1: Olá, querida!!! Você cortou o cabelo?
Amiga 2: Cortei amor! Você não imagina com quem… O Edson, aquele mago da tesoura. O que você achou?
Amiga 1: Maaaraaaviiilhooosooo. Ficou 10 anos mais moça. Essas mechas, que bárbaro! Vou mandar fazer igualzinho. Foram luzes?
Amiga 2: Não menina, é uma técnica nova de clareamento que ele
trouxe da Itália. Imagina que…..
(Meia hora depois…)
Amiga 1: Então tá bom querida. Corre pra casa que teu marido vai morrer de orgulho da esposa que tem.
Amiga 2: Ai amiga, te adoro! Beijinhos!
Amiga 1: (sai pensando) Como essa perua ficou ridícula. Será que ela não se enxerga? Não sei como aquele gato do marido dela continua casado com ela. Se der mole eu agarro ele.
Amiga 2: (sai pensando) Essa galinha deve estar morrendo de inveja do meu visual. Ainda quer fazer igual, vê se pode!… com aquele cabelo que parece um arame… Nem com implante!!
Amizade masculina:
Dois Homens se encontram na rua, um deles saindo do barbeiro:
Amigo 1: Opa! E aí maluco? Dando um tapa no cabelo? hehehe
Amigo 2: Não troxão… tirei pra lavar
Amigo 1: Que merda de corte, hein? Tu tá parecendo um viado. O cabelereiro entendeu PRA BICHA ao invés de CAPRICHA, é?
Amigo 2: É… mas tua mãe gostou.
Amigo 1: Hahaha. Falou então!… Ah, manda um beijo pra aquela gostosa da tua irmã…
Amigo 2: Vai se fuder, seu corno! Até mais!
Amigo 1: (sai pensando) Esse cara… Gente finíssima!
Amigo 2: (sai pensando) Adoro esse cara… muito gente boa…
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Que venha
O que fica são as essências, a do tema, para onde estou indo? Quais caminhos tomarei? Aonde vão me levar? Como os encararei? As essências do que passou, que me fazem escrever mais, não sobre o passado mas sobre o que estiver por vir. Tenho uma vida inteira menos vinte e um anos para provar as essências, provar, separar, guardar, absorver, compartilhar. Não tenho mais o tempo que passou, mas tenho todo o tempo do mundo.
Quer saber?? Estou louco para saber o que esse todo esse tempo tem guardado para mim. Que venham os próximos dias, os próximos capítulos, aventuras, sensações, próximas pessoas com quem terei o prazer de dividir algumas essências. Minha vida é uma criança.
QUE VENHA...
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Receita para se esquecer um grande amor
Os grandes amores existem. As grandes paixões existem. Eles existem. Eles simplesmente existem. Eu desejo que todo ser humano possa sentir o que eu um dia já senti. Somente uns poucos minutos daquele entorpecimento juvenil, daquela inundação de sentimentos que enlouquecem, daquela loucura toda que te envolve, te amedronta, aquela confusão monstruosa que vivi quando amei. E quando fui amado. Uma paixão avassaladora que me fez acreditar que eu ainda permanecia vivo. Vivo e amando. E amado. Mas, agora, eu fecho os olhos para dormir. A cama cresceu tanto de tamanho, o meu peito cada vez está menor. E muito mais vazio. Ninguém a me ninar. A minha mão não encontra a sua. Quem foi que viu a minha Dor chorando?! (Augusto dos Anjos, "Queixas Noturnas". Mas, no meu caso, diurnas também). Eu quero uma receita para se esquecer um grande amor, o senhor tem aqui para vender? O preço não me interessa, eu só quero poder seguir em frente. Nem precisa ser em frente..., basta seguir. Porque A minha vida sentou-se/ E não há quem a levante (Mário de Sá-Carneiro, "Serradura").
E o vazio logo aparece, não dá um minuto de folga (“meter a cara no trabalho” é algo que também não tem funcionado). O telefone não toca naquela hora, a minha caixa de e-mails não tem pena de mim, já não tem novidade boa a me contar. Uma sensação leve e prematura de derrota logo se apodera da gente. Depois ela cresce. Já não é mais sensação, é derrota mesmo. Eu não tenho mais para quem escrever os meus defeituosos poemas, a quem dedicar meus pensamentos, quem vai me acalmar quando a agonia aparece sem avisar? Eu me sinto tão sozinho. Por vezes eu nem me sinto. Meus olhos não vertem lágrimas, o meu coração não dispara. Será mesmo que estou vivo? Ainda nem maldisse toda a minha sina e mazela, nem afoguei minhas (agora) crônicas mágoas na cachaça libertadora, também não há outro perfume no meu corpo. Viver é amar, um dia me explicaram direitinho. Eu era inocente e acreditei. Só inocentes e tolos crédulos aprendem isso, eu tive o azar de ser um deles. Nem ouso reclamar.
Quando acordei foi em você que eu pensei. Provavelmente pensei em ti durante toda a noite também, mas dessa vez tive a sorte de não recordar. Não importa como minha vida esteja seguindo, é sempre em seu sorriso que meus pensamentos se convergem. Não há fuga nem plano B. Eu aprendi que não é te esquecendo que irei me livrar de você. Não importa quanto tempo transcorra, jamais me esquecerei daquela noite, aquela, quando estupefata você ouviu minha curtíssima e derradeira declaração de amor. Metade do tempo eu reflito sobre o que ela significou e o que ela irá se tornar em alguns parcos anos. Logo, meu coração será de outra, as suas coisas queimarei no quintal (afastando a cachorra para que não se queime) e essa frase eu voltarei a dizer. Mas não para ti, jamais para ti, nunca mais para ti... Você será apenas uma lembrança, feito tantas outras, e eu serei apenas uma lembrança para você... feito tantas outras. Já não me amas? Basta! Irei, triste, e exilado/ Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho (Olavo Bilac, "Desterro").
Quem errou mais? Isso não importa agora, logo, posso ficar com toda culpa pelo nosso fracasso. Sempre sonhei com algo diferente, como nos contos de fadas e nos pagodes de três notas (e se me perguntam Que era mesmo que eu queria?/ ”Eu queria uma casinha/ Com varanda para o mar/ Onde brincasse a andorinha/ E onde chegasse o luar”, Vinicius de Moraes, "Sombra e Luz"). A realidade foi deveras distinta disso, só Deus é testemunha das minhas queixas. Mas, nesse momento, nada disso importa, nada do que doeu agora importa. Eu vou ficar aqui, sozinho, com minhas lembranças e nosso fracasso. Vou lembrar das partes boas, para me emocionar com a saudade. Não lembrarei de nenhuma briga, nem nada disso! Eu quero uma receita para esquecer dos momentos ruins, dos bons eu não preciso. Não preciso e não quero. Para que esquecer do que me orgulho? Do que me fez feliz? Deixa a saudade me machucar, meu anjo, uma hora ela se cansa. Eu não abro mão de recordar o quanto fomos felizes. Acabou, mas não sem muito amor. É o fim, mas não antes de muitas promessas de eterna felicidade. É isso o que vale, afinal. Eu busco isso a cada instante de minha vida.
Mas agora ele está lá e eu aqui. Ele está lá seguindo a vida dele, e eu estou aqui, seguindo a minha. Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte (Neruda, "Aqui eu te amo"). Ela esta lá vivendo a vida dela como se nada tivesse acontecido. Acho, realmente não sei dizer (Teus olhos são duas silabas/ Que me custam soletrar./ Teus lábios são dous vocábulos/ Que não posso,/ Que não posso interpretar Fagundes Varela, "Canção Lógica"). Eu aqui, não triste, mas saudoso. Às vezes eu olho para os céus para descobrir se sinto algo de novo. Quem sabe um daqueles meus suspiros. Passo horas olhando as estrelas, sem entender por que elas brilham. Elas deveriam fazê-lo somente quando você fosse minha, não em qualquer situação. Mas você segue a sua vida, almoça feliz e se diverte enquanto procuro a receita para te esquecer. Sei que não irei sofrer, o que me castiga é a saudade. Não irei chorar, nem lamentar, tampouco desejar a morte. Irei apenas seguir em frente, sozinho agora, às vezes pensando: o que será que ela faz nesse momento?, agora que chove lá fora! O que será que ela faz? Será que pensa em mim? Será que sorri? Eu abro os braços para envolver a minha vida.
Lembra da música da Elis? Vou querer amar de novo e se não der eu não vou sofrer...? Preciso te dizer a verdade: se isso acontecer, eu vou sofrer sim, meu coração só existe para amar de novo, espero que você entenda. Eu sigo a minha vida por aqui, você continue a sua por aí. Se consegui a receita para se esquecer de um grande amor? Não, parece que isso não existe mesmo. A minha é seguir em frente, então, e quando não der, chorar, não há problema nenhum isso, quem aprende a amar, aprende a chorar também (Paulinho da Viola, "Amor Amor") . Eu aprendi, pratiquei contigo, jamais te esquecerei.
Cantemos a canção da vida,/ na própria luz consumida...
(Mario Quintana, "Inscrição para uma lareira")
"O ganhador", Lêdo Ivo (sempre ele!):
Tudo o que ganhei se desfez no ar como uma metáfora.Agora só guardo o que perdi:
o vento que soprava na colina,
a neve que caía no aeroporto
e o teu púbis dourado, o teu púbis dourado.
Nota do Autor
Este texto faz parte da trilogia que começou com "Dos amores possíveis".
Marcelo Maroldi
São Carlos, 3/8/2006
 
 
