Zzzzziiimmmmmmmm
Uma mão espalmada rasga o ar. Segundos mais tarde:
Zzzzzzzzzzzzzzzzzziiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmm
Duas mãos remechem no ar freneticamente.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmm
O sopapo de minha mão esquerda atingindo meu rosto ecoa no quarto.
- Que foi? Auto-flagelação como penitência, agora?
- Hahaha - Irônico – Será que eu posso dormir, por favor? Já passa da meia noite e eu não quero perder o pouco sono que acumulei durante horas no computador.
- Á vontade, só estou no meio de uma refeição noturna.
- É, mas acontece que comer durante a noite engorda e meu sangue é o prato principal. Vai procurar outro, vai! Se continuar me azucrinando, vai terminar espatifada com um tapa.
- Qual foi?!? Vocês não se vangloriam por estar no topo da cadeia alimentar? Os todos poderosos humanos, a espécie que domina, e está destruindo, o mundo, ocupando todos os habitats! Renda-se, minha função é sugar-lhe o sangue, é para isso que estou aqui.
- Ah, lá vem com essa de “o homem está destruindo a natureza”. Olha aqui, eu nunca cortei uma árvore, beleza!? Além do mais, você não precisa estar aqui, poderia muito bem estar se alimentando de frutas assim como seus machos, viu, dona sangue-suga!
- Ohhhh! Estou impressionada! Onde viu isso? Discovery Channel? TV Escola? Wikipédia? Olha, poderia explicar cientificamente, mas para um mero aspirante a engenheiro, os fatos biológicos não seriam bem interessantes. Digo apenas que, assim como você não gosta de passar horas procurando lençol de cama num shopping nem suas fêmeas curtem esportes semi-violentos regados a cerveja nos domingos, nossa espécie também tem lá suas diferenças.
- Ah, que tocante, daqui a pouco vai tentar me convencer que também são gente. Eu não estou interessado nessas suas confidências de artrópode, viu. Tenho um endoesqueleto pesado, coberto com musculos semi-desenvolvidos igualmente pesados e se a senhorita pensar em me picar e transmitir alguma doença com esse seu ferrãozinho grotesco, não hesitarei em usar minhas vantagens evolutivas, viu!?
- Nossa, estou de certa forma impressionada viu! Tia Gardênia fez um bom trabalho na oitava série viu. Mas nem tudo são flores. Isso não é um ferrão, é uma probóscide, tromba para você. 
- Aprendi mais biologia no terceiro ano mesmo, só para passar no vestibular. Algumas coisas ficaram emperradas ocupando espaço, quisera eu que fosse preenchido com coisas mais úteis para mim.
-  Como o uso dos “Porquês”, por exemplo. Mas não se preocupe,baby, me tornei adulta há quinze horas atrás e estive voando pela bunda daquele cachorro xexelento ali do INSS. Não tem perigo de te transimitir nada não. Mas me adimiro você, nascido e criado por essas bandas do nordeste, acostumado com muriçocas desde cedo, ficar com medinho de doença de mosquito, eu hein. Essas suas idas pelas “Zoropa” te deixaram muito fresco viu!
- Como  se não soubesse da dengue, né?! E não estive nas “Zoropa”, não. Atualize sua geografia. Odeio quando confundem as coisas, mas pior mesmo é quando acham que eu acho isso o máximo ou ficam dizendo: “Ah, mas você não odiava os EUA?”
- Claro que eu sei da dengue, seu presunçoso. Mas não tenho listrinhas não, viu. Na verdade acho aquilo muito cafona. Parecem que vieram de uma zebra. Não me misturo com Aedes. E aliás, vocês, humanos, transmitem muito mais doenças entre vocês mesmo que de nós, pobres criaturas de exoesqueleto queratinizado.  E eu só falei das “Zoropa” para usar o clichê mesmo, regionalismos, sabe?! Estive grande parte de minha vida (duas horas) ali pela sala também, tive algum contato com sua família.
- Mas como é que você sabe de tudo isso?
- Isso por que na verdade sou sua consciência, né!? Ou você acha que estaria falando mesmo com um mosquito?
-  Hummm...E como eu consigo isso?
- Sei lá. São essas coisas da cabeça, sabe. Seu cérebro pesa 100.000 vezes mais que meu corpo todo. Se você mesmo não o entende, imagina eu. Ainda sou do tempo do sistema nervoso difuso, bem. Isso não é para mim não.
- É, estranho, né!?
- Eu que o diga!
- Nós somos mesmo complicados. Mas as mulheres são mais, viu.
- Ah, você e essas eternas confusões com mulheres.
- Como você sabe?
- Consciência, lembra?
- Ah, foi mal!
- Olha, vou dizer uma coisa. Meu ciclo de vida é mó paia, não tem graça nenhuma. Você tá ali, voando, aí vê uma pocinha d’água limpa, tem um carinha ali voando também, aí PIMBA! Pronto, que graça tem!? E nem adianta procurar alguém com umas asinhas lisas ou perninhas mais cumpridas, afinal em algumas horas eu vou estar morta mesmo. Vamos passar logo a porra desses genes para frente e dane-se. Deixa a natureza tomar conta das larvas depois.
- E eu com isso?
- Ah, você, verterbrado egocêntrico, você é um primata superior. Você é a nata da evolução, ou a obra-prima do TODO PODEROSO, seja lá qual for seu credo.
- Isso é meio complicado também, pois...
- Cala a boca! O que estou querendo dizer é que você é um homo sapiens,aliás, homo sapiens sapiens. E  se um dia resolverem colocar outro sapiens no final, você deve ser também. E ainda mais, você é macho! Homem é o rei da baboseira,as fêmeas é que caem nas suas conversas moles. Macho não tem nada que ficar nessa blá blá blá melodramático: “Ah, quem eu quero...”; “Ah, as mulheres...”; “Ah, eu nunca mais...”; “Ah, fui traído...”. Acorda!!!! Romantismo já passou, negócio agora é pós-modernismo. Negócio tá bagunçado, niguém segue mais regra. Tá uma putaria mesmo!! Qualquer um é um gênio da arte, aliás, ninguém mais sabe que porra é arte. Você faz seu mundo, sua vida, seus personagens, vai atrás daqueles que têm a mesma opinião, daqueles que se encaixam com você. Tem gente de todo o tipo no mundo, pode ser que você ache mais meninas chororôs com pensamentos ultrapassados como você, mas a maioria não. Sai dessa, vai experimentar a vida, as aventuras, as paixões, os amores, por que não? O que aconteceu com “aguardando o inesperado”?
- Ainda existe.
- Então! Vai para cima, fecha os olhos e vai com tudo, se mete de peito! “Segura na mão de Deus e vaaaaai!” Não era assim que diziam?
- Era. Mas tá tão difícil, complicado. Auto-estima é...
- Se eu tivesse massa suficiente eu te dava um tapa na cara agora mesmo, daqueles bem novela das oito mesmo.
- Não me fala de novela que eu tenho abuso.
- Olha para você, seu bundão! Não sou muito de analisar os machos dos seres humanos, por mim, não estando anêmico, dá para ir. Mas você é novo, tem 21 anos,se bem que para mim é suficiente para inúmeras gerações, mas não vem ao caso. Tem um ótimo futuro, é até bem apresentável, mora numa cidade grande, cheia de coisas para fazer, para os mais diversos gostos, num ap. legal, só para você, tem carro, não falta grana para bons fins... Tá esperando o que?!?!
- Eu sei disso.
- Eu sei que você sabe, só não quer ver. A minha vida é simples. A de vocês é mais complicada, mas mesmo assim, é simples. Curta, pule, brinque, bote para quebrar. Você é gente boa, sangue bom, O positivo, gosto disso. Aglutininas sem aglutinogênio, antígeno Rh então, MARA!
- Acho que elas não estão muito interessadas nisso.
- Danem-se, não sabem o que perdem. Acho que se fosse humana, teria fortes tendências vampíricas.
- Hahaha. Tipo: “Se eu fosse mulher, seria lésbica!”. Muito original!! =/
- Sim,que seja, já dei meu recado. Posso beber uma gotinha aí?? 
- Vê se não faz muito estrago hein?! – estico-lhe o braço esquerdo.
- Não se preocupe, eu vivo disso.
Ela aproxima-se do meu braço, pousa e introduz o fer... a probóscide.  Suga, suga, praticamente triplica de tamanho
- Satisfeita!?!?
- Deu para o gasto.
- Bom!
LAPO!!
- Ninguém me chama de bundão, bebe meu sangue e vai embora. Além do mais, quem cai em conversa mole, mesmo?
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
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